terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Amsterdam.

E, finalmente, a viagem chegou ao ponto em que eu estou sozinha novamente.
E é bom.
É bom estar de volta, é bom escrever de novo. É bom ter tempo de estar sozinha e fazer absolutamente o que eu quiser, onde eu quiser. É bom estarmos só nós dois: Eu e o Pensamento. É bom ver a capacidade que ele tem de me provocar uma angústia feliz. É bom ver, flutuando por todo lado, as dúvidas que o nosso tempo juntos me provocam.
Se não escrevi mais aqui, que se assuma como um bom sinal: Nos últimos meses eu tenho vivido intensamente, completamente.
Mas, assim como as cartas que eu sempre escrevo e nunca mando porque estão velhas, os acontecimentos dos últimos 3 meses estão velhos. Velhos e frescos, velhos e indiscritíveis agora. Mas semana passada eu estava em Amsterdam, e realizei um sonho de muito tempo atrás. Meu primeiro sonho forasteiro. Fui à casa da Anne Frank.
Ao lado do quarteirão onde ficavam os escritórios de seu pai e o sótão onde as duas famílias se esconderam por dois anos, havia uma igreja. Uma igreja imensa, que eu nunca soube que existia.
Aos pés da construção, os bancos. Os bancos grandes que pareciam pequenos, e que faziam a gente parecer pequeno também. Para mim, foram as melhores invenções da cidade. Só porque me pareceram um convite para assistir a vida.

Caso qualquer pessoa vá a Amsterdam, antes de ver o bairro famoso, antes de ir a qualquer rua, a qualquer bar ou coffeshop, antes de sequer olhar para a igreja, para a fila da casa da Anne Frank: Eu recomendo que apenas se sentem num dos bancos gigantes.

Que importa se estiverem molhados como resultado da frequente chuva holandesa? Que importam os olhares dos ciclistas que passam? Sente-se num dos bancos; entregue-se ao acaso. Assista o mundo.

Assistir o mundo de um daqueles bancos repentinamente me deu a impressão de que eu estava no camarote de um espetáculo esplêndido. Onde, cada ato, cada fala, cada verso e cada linha; cada figurino - serve a um próposito que só se descobre no fim. Fim esse que não se sabe quando é, e nem se quer chegar. Fim esse que nem se sabe o que é.

Sentar-se num dos banquinhos gigantes de WestMarkt é como sentar-se no epicentro de um furacão fortíssimo e organizado. Onde tudo parece girar da forma correta. As casas magras e tortas umas ao lado das outras. As pessoas que, mesmo paradas no ponto de ônibus, parecem estar em constante movimento. Os bondes, os ônibus, as bicicletas. Até as luzes se mexem.

Sentar-se num dos banquinhos gigantes de Amsterdam é como escolher uma das poltronas e assistir a vida. E ver tudo passando, e caminhando. Ver tudo passando e ver que tudo acontece muito certo.

Sentar-me num dos banquinhos gigantes de Amsterdam me fez pensar, pelos poucos minutos que me foram concedidos pelo bonde que não chegava, que o mundo era mesmo muito bom.

E é bom pensar assim. Parece que tudo pode se tornar, realmente, um pouco melhor e mais justo.

De certa forma, depois que alguém senta-se num desses banquinhos, parece que eles continuam sempre existindo em todo lugar. Espero que ainda existam muitos outros.

Esse era o lugar onde eu queria estar desde os 13 anos.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

EE! Ame-o ou deixe-o.

EE é a sigla para Extended Essay, que eu descreveria (é assim? FFFFFU-) como uma monografia que decide grande parte do nosso IB diploma, cujo tema nós mesmos podemos escolher, e que ocupa o lugar de um dos deveres de casa que todos os alunos do Adriático têm para as férias. Delícia.

Pessoas normais reclamariam e diriam que férias com um dever de casa desses não são férias e esse tipo de coisa. Mas eu deveria confessar que AMO a existência de uma tarefa dessas, porque me deu a oportunidade de estudar algo pelo que sou apaixonada (provavelmente depois de ler tudo o que tenho de ler vou acabar detestando, mas ainda assim, prefiro detestar depois de saber muito...).

Estou fazendo o meu em História, e a pergunta base pra minha pesquisa poderia ser traduzida mais ou menos como "Como e até que ponto a ditadura militar brasileira de 1969 a 1974 influenciou a educação pública na cidade do Rio de Janeiro?"

Eu amo amo amo temas envolvendo educação, amo estudar sobre esse período, e vou amar o clima profissional com que a pesquisa tem de ser feita.

Agora, digam-me. POR QUE RAIOS eu só encontro livros + documentos que dizem que a ditadura militar teve efeitos negativos na educação pública?

A gente sabe a resposta. hahah

Maldita necessidade da imparcialidade, sinceramente.

YAY!

Do lado de fora.

Estar do lado de fora da utopia é um tanto quanto assustador. Assustador porque estar de volta ao Rio, desde o momento em que o avião sobrevoou a cidade ao entardecer, revelando milhares de luzes, me fez lembrar que o mundo é grande - e muito. Não se resume aos 4 mil habitantes de Duino, onde é fácil reciclar, onde é normal separar o lixo, etc, etc, etc.

A percepção do quanto o mundo é grande - do quanto o Rio é grande - me dá medo simplesmente porque eu vivi numa realidade próxima àquela que eu idealizo e, quando me vejo do lado de fora, sinto-me quase perdida. É difícil saber por onde começar, e seria quase cruel, quase ridículo, ir falar à população pobre que vive cada dia se preocupando com o de comer no dia seguinte, que eles deveriam se preocupar em separar o lixo que usam, em preservar o ambiente, em não deixar a torneira ligada.

Cansei de ser olhada como se eu fosse retardada quando eu dizia algo como "mas isso não é ecologicamente correto".


IM NOT A TREE-HUGGER, FUCK!

(Não dá pra fazer a frase acima piscar em neon estilo Moulin Rounge?)

De qualquer forma. É difícil não saber por onde começar, e só agora me sinto à vontade para escrever aqui sobre parte dos 3 meses que figurarão o meu retorno - ainda que temporário.

Foi difícil também me ver sem ter o que conversar com as pessoas a quem considero melhores amigos. Digo, sem ter o que realmente conversar, à parte de sessões de perguntas sobre o que aconteceu na minha vida. Aconteceu até com o meu pai, que por duas semanas reduziu nossas conversas a perguntas e respostas.

Depois de um tempo eu, e as pessoas tambem, conseguimos chegar ao balanço de conversar normalmente e as informações sobre o tempo de distância vieram normalmente, do jeito que a gente gosta. Let it be.


Aos poucos me acostumo a estar em casa de novo. Televisão ligada o tempo inteiro figura meu inferno diário. ODEIO ESTA PORRA. Nescau na cama aos fins de semana, frutas chegando aqui em casa, carregadas pelo meu pai quando vem pra rua, e ninguem, eu digo NINGUEM pulando nelas e gritando "FRUUUITS!". Maravilha.

É bom estar com as pessoas daqui, vê-los, me adaptar de novo. É bom estar com as pessoas aqui de casa (e isso NÃO inclui os três gatinhos infernais da minha irmã), ainda que, pelos meus posts relutantes em deixar Duino, eles tenham acreditado, profundamente, que era um sacrifício pra mim ter de voltar.

AH, se eu pudesse ser explícita... Não haveria mal-entendidos.



BTW...

Mudei o troço do blog e coloquei uns negócios baratos-coloridos-wannabe-cool. Depois melhoro esta merda.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quem quer sair da bolha?

"God, I'll miss you a lot..."
"You know I'll miss you, dont ya?"
"Yeah."
"I'll miss you... more than you imagine I will."

Não quero ir embora. E mesmo que me digam que eu vou voltar depois do verão (ou inverno pro hemisfério sul), e mesmo que eu saiba disso também, nada me faz querer ir embora de Duino agora, ou deixar de pensar que nunca mais vou ver a Duino que eu conheci esse ano. Porque quando eu voltar Duino vai ser outra. Vai ser Duino sem Dylan, sem Aye, sem Anita, sem Anna, sem Arnóia, sem o Serginho, sem o Giovanni, sem Mirko, sem Nienke, sem Anabel, sem Alma, sem Dorka, sem Joyce, sem Hemayat, sem Habib (and the lame jokes), sem Ben, sem Tomas, sem Celestina, sem tanta gente.

A quota de lágrimas podia expirar hoje. Daí amanhã, quando eu entrar no ônibus e ele ficar aqui, ainda me destrua do jeito que sei que vai, as aparências de um não-desastre serão respeitadas.

Fins são consideravelmente assustadores. Quando se olha para o céu de Duino a gente quase vê a crosta da bolha que nos envolve, de tão azul que é o nosso céu, de tão brilhante que é nossa lua iluminando o mar que mais parece uma piscina.

A verdade é que, enquanto nós, first years, não queremos viver sem pessoas tão especiais quanto os nossos secondos, os últimos não só sentem por se despedir de duas gerações de uma só vez, mas também têm medo do que vem quando deixarem a bolha. Solidão, ineficiência, incerteza.

Duino é um paraíso.

sábado, 15 de maio de 2010

AAAAAAHHH!

Toda vez que penso em postar qualquer coisa aqui no blog, tudo o que consigo pensar em escrever é sobre o quanto estou adorando Duino agora e o quanto quero ficar aqui mais tempo com as pessoas que eu adoro.

E bom, é claro que eu vou voltar em setembro, e que vou conhecer meus primeiros anos, que eu já tanto amo (todos eles, sejam brasileiros ou não). E é também verdade que nos meus primeiros 3 meses todas as minhas opiniões sobre oc olégio eram terríveis e critícas.

Críticas ainda são, mas talvez porque eu agora conheça o lugar aonde estou e como as coisas funcionam por aqui, minhas idéias sobre o colégio são muito mais positivas. Lembro que nos meus primeiros meses eu não tinha muito tempo pra pensar porque tudo era muito intenso, lembro que eu estava decepcionada com o nosso headmaster, e com a forma como a relação entre alunos e professores acontecia aqui.

Ainda acho que tudo isso tem de melhorar - e vai - mas agora os momentos que eu passo com as pessoas quese tornaram minhas amigas são muito mais fortes. A verdade é que, se o segundo semestre de UWC foi util pra algo, esse alo foi o fortalecimento de amizades que eu não imaginava que pudessem ser tão próximas.

Eu amo Duino, amo minhas roomas do ano que vem, amo andar pela floresta, descobrir praias secretas, amo o gramado do fore lawn, amo as conversas que tenho com as pessoas aqui.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

You didnt leave yet.

Ontem eu estava conversando com o Dylan até as 4 (ou mais) no dayroom da Scholtz, como de costume. E ele pensa tanto em tudo, sobre tudo.

E ele me disse que se arrepende de não ter feito determinadas coisas, e que não sabia como seria passar um ano no Chile por conta própria, e que ter que construir uma vida nova a cada vez que a gente deixa um lugar é difícil.

E de fato, é. Mas eu tive de lembrá-lo de que ele ainda não foi embora, e que nós ainda temos uma semana e alguns dias. É TÃO POUCO. É tão pouco pra Duino, e pra mim. A cada dia minha certeza de que eu amo esse lugar, o colégio e as pessoas que estão aqui só aumenta, e a cada vez que alguem me lembra dos dias que faltam pra que eu volte pra casa, por mais que eu ame tudo o que está lá, o que eu penso é que eu não quero voltar. Quero ficar aqui, quero passar tardes como as que passei hoje, sentada na varanda da mensa, no sol, com o mar na frente, nuvens refletidas no mesmo, uma voz falando comigo. Quero passar noites em claro como já fiz tanto, quero ir nadar no Porto por uma quantidade infinita de vezes.

E, mais que tudo, não quero que pessoas lindas deixem o colégio. Quero MUITO receber meus primos, todos eles. Os brasileiros, europeus, africanos, asiaticos, quem sejam, já os amo todos. Mas amo muito a Ayelen da Argentina, minha seconda que foi mais importante do que ela pode imaginar. Não quero que a Anita do Zimbábue e a Anabel do México vão embora e eu não tenha mais o quarto delas pra visitar. Não quero que o Hemayat de Bangladesh me deixe sem os abraços maravilhosos e o Habib do Líbano me deixe sem as piadas terríveis que ele conta. O Sergio da Bolívia, a Alma da Eslovênia e até a minhas roomates da Bósnia e România, que me provocaram tanta tristeza e risadas no mesmo ano vão fazer falta (é bom rir da superficialidade da Ajla, só de vez em quando, e surtar com a bipolaridade da Celestina). E não quero que o Dylan vá embora, também, apesar d'eu saber que ele vai ter um futuro invejável.

É só muito estranho o fato de que eu só tive um ano com pessoas que eu amo TANTO e que muitos deles não vou ver mais.

Duino hoje estava linda, linda, linda, e da varanda, quando eu olhei pro mar na direção do Brasil, como faço sempre, me senti mais pertencente a Duino, mais do que nunca.


"Ive lived for so many years going to parties and watching people dancing. And I would always want to do so, but I would be too silly to do so. I would always say to myself that in the next song I would stand up, but the next song would be bad, and so would be the next one... One day I stopped watching people dancing and nw a good song is playing everywhere I go. Right now, for instance..."