segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Noite Latina.

Esse vai ser bem curto.

Tivemos uma festa latina no Mickeys, um barzinho que tem aqui, lugar das festinhas rotineiras de sabado. Havendo eu resolvido ir de vestido, ouvi, como primeira reaçao, um dos meninos italianos me dizendo algo como "Voce esta bem latina, hoje.", enquanto analizava meu vestido.

Isso me doeu na alma.

"Que é que voce quer dizer? Eu estou latina todos os dias, eu sou latina, nasci no Brasil. Mas caso voce esteja se referindo a forma como eu me visto, é melhor que reveja os seus conceitos."

Depois disso alguns ficaram se sentindo aparente mal e o Shoya deu um tapinha no meu ombro enquanto dizia "Voce tem paixao demais por essas discussoes de estereotipo, pega leve."

Disse e foi merecido que eu tenha dito.

Hahah, to bem latina hoje.

sábado, 21 de novembro de 2009

Sobre angustias da semana passada.





Que falta me fazem os acentos graficos e tils...

Tempo que nao venho escrever aqui. As razoes podem se dividir em preguiça, falta de vontade, coisas demais pra se fazer, ma administraçao do meu tempo, desanimo. Mais que desanimo, incerteza.

Que se deixe claro meu bom estado de humor e espirito agora, mesmo que o que venha a seguir va contar sobre minha ultima semana, que estava na parte mais baixa da frequencia.

Dia desses eu tive uma das raras conversas com a minha co-year aqui, e ela me disse que a vida por aqui nao pertence ao mundo real. Aqui um dia pode ser tanto um mes quanto um segundo, e que, caso tivesse de escolher um desenho pra representar a vida no colegio, seria um daqueles que mostram a frequencia cardiaca.

Se hoje estou num dos meus dias altos, amanha posso estar no fundo de um abismo e vice-versa. O que me fez estar um tanto quanto baixo foram provavelmente algumas decepçoes e percepçoes que eu tive, sem ter o devido tempo pra reflexao que eu tinha antes. Decidi que vou separar um tempo no dia pra organizar minhas idéias em portugues. Nao se pode abandonar uma lingua dessa forma.

Entre os muitos motivos  estao alguns dos professores. Ainda que existam aqueles que sao maravilhosos e que me fazem sentir real vontade de estar nas aulas, existem aqueles que nunca imaginei encontrar aqui. Tudo tem a ver com expectativas.

Nas nossas aulas de biologia, por exemplo, fazemos experimentos no laboratorio sobre um determinado assunto antes de ve-lo teoricamente. Como resultado todos os alunos fazem a experiencia apenas seguindo as instruçoes, sem nem ao menos saber o que e por que estao fazendo tudo aquilo. Pra mim isso nao existe, sinceramente. Qual o sentido de fazer um experimento sem saber O QUE eu estou fazendo? Nao tiro proveito nenhum dessa forma. Por isso eu entender, por meio de perguntas, pra que nao jogasse meu tempo (que, inclusive, era extensao; eu iria almoçar as 2 da tarde) completamente no lixo.

O fiz e o entendi, mas o que me deixou perplexa e talvez até mesmo triste foi ver na expressao facial da minha professora o quanto ela me achava estupida por perguntar.

Outro professor que simplesmente odeia perguntas é o de matematica. Todos aqui dizem que ele é o melhor do colégio. Sinto muito pelo Adriatico, pois.

A falta de tempo pra pensar apropriadamente, e a rapidez com que os fatos sucederam-se me nao chegou a me fazer sentir estupida, mas eu me senti angustiada demais, frustrada demais. Parecia que tudo estava conspirando pra me diminuir o cerebro.

Até que, conversando com gente do meu passado eu vi que a estupida nao sou eu, por querer entender; e talvez estupidos nem sejam os meus professores, por nao querer raciocinar e enfim me responder. é fato que responder a perguntas pede algum esforço, mas talvez eles apenas tenham sido ensinados assim. Talvez nao seja culpa deles, e nem isso me interessa.

Tive tambem decepçoes com os colegas a minha volta. Descobri que as vezes, quando coloca-se muita gente inteligente junto, no mesmo lugar, conversando, elas tendem a falar e fazer milhares de coisas estupidas.

Uma delas tem a ver com auto-estima intelectual. Pode-se ficar bastante cansado de ver uma batalha intensa pra que se mostre quem sabe mais, quem usa as melhores palavras, quem, quem quem quem (...).
Outra coisa é a obsessao por liderança. Ja vi brigas silenciosissimas se darem depois da pergunta "Quem organizou isso?"
Ha tambem aqueles que veem os outros menores, mesmo que disfarçadamente, por causa de uma ou outra palavra pronunciada erroneamente, ou por causa do sotaque mais forte de uns... Pararam de fazer piadas sobre a professora de espanhol, que tem um dos sotaques mais fortes aqui, depois que eu perguntei em que o sotaque dela diminuia a qualidade das aulas ou a qualidade dela enquanto professora.

Por fim, num desses dias, mais uma vez, eu estava ouvindo alguns dos meus segundos anos relatando o quao apaixonados eles sao por uma das minhas terceiro-anos brasileiras. Obviamente eu acho isso maravilhoso e sinceramente ja gosto dela, so por todas as coisas boas que ouço. Mas entao eu ouvi algo ais que foi parecido com "Ela era tao tao tao legal... A melhor pessoa que eu ja conheci no colegio..." e entao me disseram "Esta vendo, Eduarda, voce tem um monte pra melhorar" ou algo do tipo. Perdoando-se a minha traduçao ruim do que foi dito, eu senti vontade de dizer um monte a eles.

Que, de fato eu tinha um monte pra melhorar, mas que nao era pra atingir as expectativas de ninguem a nao ser as minhas proprias, que eu nao sou e nem pretendo ser igual as minhas terceiro anos, que eles eram uns amores de pessoas porem extremamente inconvenientes por impor sobre mim a pressao mental de que eu deveria deixar lembranças e sentimentos tao bons quanto as brasileiras que passaram por aqui.

Mas entao eu presumi, como que em segundos, o mal estar que eu causaria e preferi nao dizer nada. Sorri de canto e me fiz pensar que eles nao faziam aquilo de proposito.


Depois de dias baixos, a frequencia da minha semana voltou a subir, terminei meus deveres de casa e na quinta feira ja me senti uma nova pessoa, com uma visao diferente sobre todas as coisas. Peguei um livro pra ler e me veio, em um paragrafo, o que eu poderia ter postado aqui, em lugar de todo esse post gigantesco...

"Catei os proprios vermes dos livros, para que me dissessem o que havia nos textos roidos por eles.
- Meu senhor, respondeu-me um longo verme gordo, nos nao sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhemos o que roemos, nem amamos ou detestamos o que roemos: nos roemos. 
Nao lhe arranquei mais nada. Os outros todos, como se houvessem passado a palavra, repetiam a mesma cantinela. Talvez esse discreto silencio sobre os textos roidos, fosse ainda um modo de roer o roido."

Machado de Assis - Dom Casmurro.


Ciao. (:

domingo, 8 de novembro de 2009

Peace March - Carnaval em Novembro.

Ha poucos dias eu estava andando por Duino e senti um cheiro fortissimo de Rio de Janeiro. Eu nao saberia, realmente, descrever o que eu chamo de cheiro carioca, mas sei que senti-lo aqui, por um motivo que desconheço, me fez imensamente feliz.

Apesar disso, nao foi como me sentir em casa. Nao foi como ontem.

Existe algo que se chama Peace March (Marcha da paz), que, esse ano começou na Argentina, passou por inumeras cidades, e dessa vez passou por aqui por Trieste.

Pois bem que nos aqui do colégio fomos a tal da Peace March, muito mais pra da ruma força ao garoto que estava super entusiasmado com isso, mas ao mesmo tempo na expectativa de encontrar nada muito diferente dessas passeatas em que as pessoas clamam por paz por algumas horas, e depois voltam pras suas vidas, sem resolver coisa alguma.

Mas nos, e eu, principalmente, tive a melhor das surpresas. Foi imensamente lindo. Eu, Shai (Israel), Blanca (Espanha), Norah (Noruega), Pablo (México), Chiara, Aléssio e Carla (Italia) fomos pelo onibus e pelas ruas cantando, Shai e Blanca tocando violao.

Entao chega-se a praça onde haveria a concentraçao e nos simplesmente encontramos uma banda tocando musica brasileira. Se em um momento eu me sentia no Rio com a batucada do samba, noutro eu me sentia no Pelourinho, com um tipo de batucada diferente.

Meus olhos correm a minha volta, e veem aquelas mesmas pessoas mortas e de cor pastel - peles e almas - que eu observo sempre que ando por Trieste, dançando do jeito que bem entendiam, no meio da praça.

Tive um Brasil improvisado por um dia.