sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Tenho tido mais saudades de casa. Nao sei se poderia descrever uma pessoa em especial, ou um lugar, ou um objeto. O fato é que, a cada vez que encontro pela frente uma pessoa mesquinha, egoista, egocentrica, decepcionante, falsa, superficial, imatura, etc etc etc, tenho mais saudades dos amigos maravilhosos que eu fiz e que tenho, mas que estao tao longe.

Queria  eu comer neve com a Bia, ter piadas internas sobre Paris com a Wanessa, cantar musicas aleatorias com a Teté e a Luu, rir com a Millu e o Andrei, ouvir as historias da Thamires e em seguida fazer com que ela me xingue pelas minhas zoaçoes. Falar dos garotos europeus com a Jayne e a Camilla, receber o olhar critico da Melissa quando falasse dos meus 5 em biologia e matematica ("mas a nota maxima era 7!"), ouvir as piadas repetidas da Isis, comer crepes e croissants com a Hilda, andar pelas ruas passando um dos braços pelos ombros do meu pai ou da minha mae. Ser entendida so pelo olhar. Isso é algo que nao encontrei em pessoa alguma por aqui. Tudo é preciso que se explique.

De certa forma, pode ser que eu seja estupida por nao valorizar as boas pessoas que estao a minha volta. Posso ser estupida por nao ver, no momento presente, o quao engraçadas sao minhas internas com a Dorka, o quao bom é rir com o Hamid e o quao divertido é ouvir o Shoya dizer "Peitos obligato" toda vez que me ve, e entender o porquê.

é sò que, quando se esta no ponto mais baixo da frequencia, nunca se lembra do que havia la no alto.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Neve, neve, NEVE!

Hoje Paris amanheceu com neve - Neve nos carros, nas calçadas, cabelos, roupas, guarda-chuvas. Acordei tarde novamente e apos aguns minutos minha host mom veio pro meu quarto dizer que ela achava que eu iria gostar de ver neve. Meu rosto amassado pelos lençois e travisseiros se iluminou e eu corri pra janela que se abriu e me revelou uma Paris branca, branca, branca.

Pulei de volta pro armario, me vesti, penteei, escovei, sai. Descobri que Paris estava tao branca quanto escorregadia, e que minhas botas, poderosas em Duino, quase nada me adiantavam aqui. Subi as ruas e escadarias até a MontMatre, uma ingreja enorme que fica no alto de um monte, dando vista pra Paris inteira... Vista essa que nem vi. Tudo branco, o céu estava branco, e rapidamente assim estavam meus cabelos.

Peguei na neve, fiz bolas e nao joguei em ninguem.

Ao pé da igreja uma familia australiana brincava com um garotinho de uns 3 ou 4 anos. "Its his first time!" Identifiquei-me instantaneamente.

De repente Moulin Rouge.

Primeiro dia em Paris. Férias. Amanhece (as 11 da manha, o horario que a ausencia de aulas lhe permite alcançar na cama) o domingo, pega-se uma bicicleta, mochila e par de luvas. Vai-se a pedalar pela cidade, conhecer o jeito, como funciona, o ritmo, a intensidade. Paris era quase uma musica. Os patos no rio, crianças no carrossel, museus, milhares de champs, torre...

Caminha-se devagar para digerir cada passo, cada nome de rua. Os prédios declarando a sua idade pela diferença de suas posiçoes na calçada, a ausencia de folhas nas arvores. O inverno é lindo! Apenas o primeiro deles.

Pega-se a bicicleta novamente. Ate as bicicletas sao diferentes. A cena cliche dos cabelos ao vento, o pedalar desacelerado que se tem apenas para apreciar a bela paisagem...


Besteira.

Domingo, meu primeiro dia aqui. Férias! É claro que voltei ao habito antigo de me abster do café da manha.  Dormi até as 11, bocejei o sono acumulado por 3 meses.
Turista sem saber nada sobre Paris, qual a melhor opçao para conhecer a cidade de forma segura e confortavel?
Va andar de bicicleta pelas avenidas mais importantes, CLARO. De preferencia quando elas NAO estao mais fechadas para as bicicletas e quando existem milhares de motos e carros em alta velocidade. Por favor nao se esqueça de ESQUECER o frances que havia aprendido na escola por 4 anos. Para se distrair xingue alguns palavroes em portugues e tudo ficara bem.

Foi absolutamente legal, na verdade. Aprendi a andar de bicicleta sem ser aropelada pelos carros nas avenidas mais movimentadas, vi patinhos pelos rios, andei pelos lugares em que eu sonhava andar, respirei o ar das igrejas, dos museus, dos milhares de turistas e das lojas caras...

Fiquei apertada para fazer xixi e todos os banheiros desapareceram instantaneamente, me deixando a opçao maravilhosa do Mc Donalds que se encontra em todo lugar...

Hora de voltar. Descubro que nao posso pedalar de volta pelo caminho por onde fui. Busco um alternativo, seguindo os carros, as placas, as inscriçoes no asfalto. Sem encontrar paisagem que ja tenha visto, me sinto perdida. "Je ne sais pas où je suis, monseur..." "Je me suis perdù, monseur..." "Do you speak english?... Good, thank God! Cuz i completely dont know where I am."
Chego ao Gare du Nord. Uma vez que sei onde estou, pedalo idiotamente sem me preocupar com a altura em que devo dobrar pra voltar a casa.

Anoitece. Letreiros neon, milhares de luzes.

Um sex shop, dois, tres. Um restaurante supostamente japones chamado "Sakana". Vitrines com produtos eroticos e pessoas andando normalnete pela rua com tudo aquilo em volta. Me vejo na estaçao de metro chamada Pigalle. Havia passado duas estaçoes desde Anvers, onde eu deveria virar pra alcançar a Rua Turgot.

Pedalei de volta pra casa, deixando o Moulin Rouge a brilhar atras de mim...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Grazie mille, Greco nao sei das quantas.

é o sujeito que pagou minha bolsa de estudos aqui.

Se eu nao me engano, o colégio da Italia é um dos UWCs onde todos (ou ao menos quase todos) tem uma bolsa integral - O que, alias, fez possivel a minha vinda pra esse colégio. Se com uma bolsa integral dinheiro ainda é uma preocupaçao, imagine sem... Seria impossivel estar num colégio tao maravilhoso, onde eu sempre quis e saberia que estaria, ainda que nao soubesse por que meio.

O meio foi exatamente o tal do Greco nao sei das quantas, que de alguma forma acredita numa diferença no mundo atraves de uma diferença na educaçao. Que nao soe desrespeitoso a forma como eu o chamo, mas é que eu sou simplesmente ruim demais com nomes, principalmente quando eles sao um desses "internacionais", com os quais nao estou acostumada ou algo do tipo.

Semana passada nos tivemos que escrever uma carta para os responsaveis pela nossa presença aqui, e assim eu descobri quem foi o sujeito que acreditou em mim antes de me conhecer. Escrevi uma carta bem longa (infelizmente tendo que seguir instruçoes do colegio a respeito do conteudo da carta), dizendo quase tudo que senti vontade. Queria que ele respondesse.

Cartas deveriam ser respondidas.

Pagu.

Fantasma que me assombra quase todos os dias. E, o pior, vem quase sempre de pessoas que eu adoro, me impedindo da grosseria maior que vem com toda a força, todas as vezes que ouço alguma besteira.

Hoje nos tivemos a entrega dos presentes pros amigos latinos. Foi lindo. Meu "amigo latino" foi o Emilian, que é da Polonia mas que tem sangue iberico e participa das aulas de espanhol - motivo pelo qual foi adotado por nos. Eu decidi cozinhar uns doces  brasileiros, esses que tem em toda festa de criança e que ja fazem um relativo sucesso aqui no colegio, uma vez que os gringos adoram "coconut stuff".
O Pablo tinha me tirado e me deu um presente lindo, lindo. Tres passaros de origame, em papeis onde tinhamescritas as musicas do Chico Buarque (que ele sabe que eu amo), em espanhol! Prometi que vou tentar aprender a cantar em espanhol.

Depois da entrega dos presentes nos decidimos conversar pra decidir determinadas coisas que vamos fazer na Semana Latina, que sera em março do ano que vem. Falamos de uma telenovela, dessas bem tipicas latino-americanas, com mocinho, mocinha, vila empurrando alguem da escada e a classica cena do "Eu sou teu pai".

Entaoc omeçamos a escrever um roteiro pra telenovela e a encaixar os personagens secundarios. Quando surgiu a presença da amiga da mocinha que é bailarina num bar, eu e a Marcela, a outra brasileira que esta aqui comigo, escutamos algo como "Uma das brasileiras tem que ser a dançarina". A Marcela, na sua simpatia, riu e perguntou "Por que a gente tem de ser a dançarina?" Mas eu, como ja sabia a resposta, fiquei MUITO puta de ouvir aquilo, principalmente de um outro latino.

Minha expressao que estava risonha antes pela diversao que era de escrever a novela, se fechou completamente, eu olhei pro dito cujo e disse "No." Todo mundo se calou e eu repeti "No. Definitivamente nao." Ele ficou completamente sem graça e eu agora até fico um pouco chateada por ter causado isso, mas eu odeio (odeio muito) esse tipo de coisa.

Que me peçam pra ser a mocinha, a vila que empurra alguem da escada, a arvore do cenario. Mas esse esteriotipo babaca ficou muito claro quando foi dito que "uma das brasileiras tem de ser a dançarina do cabaré". Como se uma brasileira so tivesse funçoes promiscuas e vulgares, como se uma brasileira nao pudesse usar o intelecto ou nada diferente do corpo. Como se toda brasileira fosse bunda.

Entao ele perguntou "Mas por que?" E a Ayelen, da Argentina, me fez o favor de responder que eu nao queria alimentar a nenhum esteriotipo, o que foi uma resposa bem menos agressiva do que a minha seria.

Depois disso eu e a Marcela decidimos que nossa parte brasileira no show latino vai ser algo LINDO, e que vai quebrar os esteriotipos (ou pelo menos tentar) que foram formados ha tanto tempo atras. A gente quer mostrar o tanto de coisa bonita que a gente tem e que nao se resume a futebol, praia, samba e corpo.

Eu lembro que, uma vez, ainda no Brasil, me perguntaram por que é que esse esteriotipo da mulher brasileira relacionada a sexo e o homem brasileiro relacionado ao futebol havia sido criado. Eu pensei por alguns minutos e depois tudo o que eu podia responder é que nao sabia. Hoje eu sei. E é mais um motivo pra que eu, tao longe no tempo, ainda odeie a ditadura.



Aceito ideias criativas pra o que posso fazer sobre o Brasil na semana latina. :D