terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Sinto que...

Sinto que nao falei o suficiente de Paris. Sinto que... Sinto muito.

Pois bem, dois episodios merecem ser escritos para a posteridade (ainda que estejam escritos muito mais detalhadamente no meu diario).


Causo Primeiro - Dos Parisienses.

Isso pode ser traumatico.

Noite de Ano Novo. Eu, Ayelen e Anita sozinhas na casa da floresta de pessoas desconhecidas e distantes que achamos pra ficar. Que seja, Paris é o lugar certo para divertir-se facilmente, hm?

Ha! Se voce tiver muita grana pra jogar fora em croissants que custam algo correspondente a dezoito reais, sim.

Internet, porém, pode sempre ser usada ao nosso favor. Google. Palavra chave? "Free Parties Paris". (Festas gratis paris)

No meio de todos os resultados com eufemismos para festas com strip tease na noite de ano novo, lugares duvidosos mais distantes de Paris do que a casa em que estavamos e todo esse tipo de coisa, encontramos um.

Barzinho pequeno, luzes vermelhas ("It sounds dubious for a Latin American!"), centro de Paris, perto da Bastilha. Jeito alternativo, musica que eu e Aye gostavamos. Adesivos underground nas paredes, feito pra gente.

"Isso pode ser um plano B." A gente iria encontrar algo melhor, com certeza.

Plano B, encontra-se Sergio e Santiago, passamos uma noite com eles, usamos meu presente de Natal, conversa-se. Plano B, "o que voces vao fazer no ano novo?", plano B, plano B virou plano A e enfim, na tao esperada noite de Ano Novo la estavamos nos tres saindo de casa em direçao a estaçao de trem.

Eu num batom vermelho que me caiu bem com o vestido preto, Ayelen com o salto alto e meias estilo Pin-up Girl, Anita do jeito Hippie que completa o trio e nos faz ser REALMENTE estranhas numa estaçao completamente "afro"-parisiense com todas aquelas mulheres bonitas e cabelos fantasticos e toda essa coisa.

Pega-se o trem, chega-se. Anda-se, ri-se, encontra-se. Musica, caras bonitos à vista logo do lado de fora. Bebidas baratas. De graça. Underground. Entra-se.

Entramos e tivemos uma bebida qualquer pra comemorar a chegada do novo ano. Escolhemos um lugar pra ficar e nos pusemos a apreciar a vista. Loiros, castanhos, barba, oculos, moderninhos, nerds, lisos e cacheados. Tem-se de abrir um parentese e dizer que os caras parisienses SAO, em sua maioria, lindos. Nao so lindos externamente, mas todos os que conheci foram extremamente educados, gentis, e bastante inteligentes. Nada daquele negocio de que os franceses se recusam a falar ingles Se voce for educado, sorrir, e pedir uma informaçao em ingles, eles param e tentam aquele ingles com o sotaque frances transbordando pela boca. Ou eu é quem fui sortuda.

Bom? Sim, bom demais. Contagem regressiva, meia noite, "cheers".

Entao começa-se. Se eu soubesse o que viria a seguir, incluiria uma musica que preve uma cena aterrorizante acontecendo. Como agora eu sei, inclua-se aqui nesta linha.

Era como uma doença nacional - Ou citadina, quiça - Nao havia UM sequer que soubesse mover o corpo de um lado pro outro, de acordo com o ritmo, tambem conhecido por "dançar". Agora imagine que voce nao saiba dançar. Na França voce saberia e muito bem, juro.

Uma coisa é nao saber dançar, outra coisa é nao se contentar em nao saber dançar, mas tambem pensar que sabe enquanto na verdade esta se debatendo e quase atingindo (fatalmente) pessoas a volta. Uma coisa é nao saber dançar, outra é tentar ser sexy enquanto o faz. Pode-se argumentar tambem que eles estavam dançando dessa forma porque o lugar era underground, porque eles nao ligam para o que os outros pensam e tudo mais, pessoas lindas essas. Ha!

Pessoas lindas, uhum. Sabe o quao triste é ver um cara lindo, inteligente, com sotaque frances, dançando, mexendo os quadris e fazendo uma cara de quem esta pro perigo, apontando o dedo pra voce e suas amigas? :D

Pois é, nao é nada triste. Eu amei. Porque me fez rir muito, muito, muito. Fizemos amigos, nao precisamos nos preocupar em dançar bem ou mal, e rimos muito, muito mais. Praticamente todo mundo no bar veio puxar assunto com a gente quando souberam que eramos estrangeiras.

No fim da noite a minha imagem dos franceses nao era alguem mal humorado, recusando-se a falar ingles com turistas, que nao toma banho e fuma o dia inteiro.

Minha imagem dos franceses era um cara lindo e inteligente, cabelos ondulados, olhos relativamente claros, dançando de forma caricaturada e apontando pra mim. Isso me faz rir a toda hora que me vem a mente. Obrigada.


Causo Segundo - Da honestidade.

Titulo errado. Erradissimo. So porque se trata da minha pessoa. E de outras mais, na verdade.

 Va a Paris com muita grana, e tenha uma experiencia maravilhosa.

Va a Paris com pouca grana - And have fun!

Passa-se que, a cada vez que queriamos pegar um trem de Chartrettes - no meio do nada - Para ir a Paris, a 40 minutos dali, tinhamos de comprar um bilhete de trem no valor de 10 euros, 30 reais. E nos nao sabiamos disso antes de ir pra la. Quando fizemos as contas realizamos que a cada ida a Paris gastariamos cerca de 60 reais, e, multiplicando-se pela quantidade de vezes que precisavamos ir a Paris, se transforma numa fortuna.

Pois bem que eu e a Anita tivemos a brilhante percepçao de que nao viamos fiscais nos trens, verificando quem tinha o bilhete de trem, e quem nao o tinha. Na nossa estaçao de trem nao existiam roletas. Nossa grana tava curta. O croissant custava 6 euros. Mc Donalds e Kebab places eram os unicos lugares em que comiamos - recebe-se uma refeiçao completa por um preço quase igual ao do croissant.

Fomos e voltamos, fomos de novo, voltamos, sem os benditos bilhetes. Maravilha.

Ultimo dia em que precisavamos pegar o trem de Chartrettes a Paris (depois dali eu voltaria pra casa do Pierre, a Anita iria pro couchsurf e a Aye voltaria pra Italia). Eis que surgem os tais fiscais, exatamente no nosso vagao.

Uma das mulheres veio ate nos, depois de passar por alguns passageiros. Perguntada pelo meu bilhete em frances, figimos nao entender, numa ultima esperança de que ela nao falasse naa de ingles e desistisse. "Iòrr tiquètis". Heh, eles falam. Dissemos que nao tinhamos e ela nos explicou que, neste caso, tinhamos de pagar "Fourteen euros!". Quatorze? Otimo. Um bilhete custava 10, pelas vezes que ja tinhamos pego o trem, ultrapassamos os 14 euros, e muito.

Dinheiro na mao dela, dinheiro devolvido. "Fourteen!" "Here you have, fourteen euros. Ten plus four, fourteen." "No, I said fourteen" "Oh. You mean forty?"

Era quarenta. Nao temos, nao temos cartao de credito, pede-se documento de identidade.

Da-se que pego meu passaporte brasileiro. Ela pega e verifica meu endereço. Uma tal Rua Engenheiro Moacir Barbosa. Brasil. Rio de Janeiro.

Entao a senhora vira-se a uma outra e diz algo que entendi como sendo "Pobrezinha, ela é do Brasil. Voce acha que alguem vai mandar uma multa pro Brasil? A outra é do Zimbabue!"

Dai ela escreveu algo nos papeis e me deu, o que seria a multa. O trem chegou a Paris, perguntei quando eu deveria pagar.

"Forget it! But keep quiet."

E assim nos tres saimos do trem, rindo toda a vida, e bendito seja meu pais subdesenvolvido.

4 comentários:

  1. hahahahaha!!! ainda bem que isso não dá cadeia né? Voce tá ficando bem trambiqueira hein hahaha. Se chegar aqui alguma multa com relação à isso, vou me recusar a pagar. Adoro ler suas histórias, eu ri muito, elas tem um toque de humor maravilhoso.

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  2. HAHAHHAHAH MALANDRA. GARGALHEI AQUI.
    Quando for a Paris,vou lembrar disso.

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  3. Finalmente um lugar para pessoas que não sabem dançar *o* HSUAHSUAHSUHAA

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  4. Duda brasileira NATAAAAAAAAAAAAA!! AHSUAHSUAHSUAHSUAHSUAHSUAHSUAHSUAHSUAHSUA Morri com o causo segundo!!

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